A forma de
educar, de maneira rígida e sem críticas, foi notada durante um longo período nas
disciplinas escolares que, durante anos, sofreram poucas modificações em seus conteúdos
e no modo de ensinar utilizado pelo educador, considerado tradicional,
inflexível e que inibia a criatividade do alunado. A principal característica
do ensino tradicional se pauta em disciplinas meramente descritivas,
enciclopédicas, decorativas, distantes da realidade vivida pelos alunos, onde o
“decoreba”, ainda, acaba imperando. Contudo, nos dias de hoje, com a
diversidade de tecnologias disponíveis, os professores tendem a modificar suas
práticas docentes, levando em consideração não somente como o aluno
demonstra-se em sala, mas como age no seu cotidiano e no relacionamento com a
sociedade.
Nesse sentido,
os métodos e as técnicas de repassar o conhecimento também sofreram alguns
avanços. Pois, assim como em outras atividades humanas, o ensino de cartografia
também vem sendo beneficiado com os avanços ocorridos nos últimos anos na
informática e em suas ferramentas computacionais. Se no passado, a ferramenta
principal no processo de ensino aprendizagem da cartografia era baseado somente
em mapas impressos em atlas e em livros didáticos, na atualidade a diversidade
de softwares e ferramentas disponíveis na internet possibilita aos
professores uma atualização constante e o dinamismo das aulas que envolvem
produtos cartográficos.
Nos mapas
impressos em livros didáticos e em atlas escolares a realidade é mostrada de
forma “estática”, figurativa e muitas vezes sem relação com o texto principal, em
que o papel do professor enquanto intermediador para se alcançar o conhecimento
depende muito da formação do docente, onde, caso o professor não tenha estudado
a cartografia em sua formação superior, o ensino fica prejudicado. O ensino
tradicional, apesar de ainda hoje estar presente, antigamente, era repassado
majoritariamente em todas as escolas do país, e agora é visto, com menos força,
em alguns poucos resquícios em que a educação tradicional ainda se mantém, onde
a localização de objetos e fenômenos é simplificada pela apresentação de mapas
– de forma figurativa, em que os mapas e seu uso não possibilitam aos alunos um
caráter crítico sobre a realidade que está nas ações humanas.
Nos dias de
hoje, a popularização da informática e o acesso a textos e a produtos
cartográficos em formato digital, além da flexibilidade/facilidade no manuseio
das chamadas geotecnologias (hardwares, softwares e técnicas
direcionadas para a geração de geoinformação, ou seja da informação
espacial/geográfica), facilitou as atividades produtivas de diversos
indivíduos, não somente para os professores de geografia ou de outras ciências
humanas, mas de profissionais de várias ciências que integram às suas
atividades docentes o ensino do/e pelo mapa, além de outros sujeitos que
utilizam essas geotecnologias em sua localização cotidiana, como o Sistema de
Posicionamento Global – GPS, ou a visualização das imagens do Google Earth,
ou em outros sites de empresas privadas e governamentais (figura 01 e 02). Essa
facilidade gerada com o avanço da informática, aliada aos conhecimentos
cartográficos desenvolvidos durante séculos de estudo, que agora estão
dispersos nos computadores, tiram do docente aquele velho pretexto de que não
sabe cartografia devido a sua formação superior deficiente.
Figura 01: Site I3GEO –
Ministério do Meio Ambiente
Fonte: http://mapas.mma.gov.br/i3geo
Todavia, apesar da grande importância do conhecimento
apreendido em sala de aula no ensino superior, o número de textos, livros,
softwares e tutoriais sobre cartografia, sensoriamento remoto, geoprocessamento
e geoinformação em geral, permitem que qualquer indivíduo tenha acesso aos
produtos cartográficos da era digital. Além disso, os sites, blogs
e listas de discussão sobre essa temática vem se multiplicando diariamente,
devido a facilidade do manuseio e ao fascínio que o ambiente computacional
oferece para a confecção de produtos cartográficos. As figuras 01 e 02, dos
sites do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério das Cidades, demonstram
essa realidade, onde não somente as empresas aderiram ao ambiente WebGis,
mas também diversos órgãos públicos.
Figura 02: GeoSnic – Ministério
das Cidades
Fonte: http://geosnic.cidades.gov.br/
Os atlas digitais disponíveis na internet, juntamente
com a tecnologia WebGis que vem sendo desenvolvida, com suas camadas
vetoriais e raster, são a prova indiscutível da popularização causada por essa
demanda crescente de usuários da cartografia e da geoinformação. Como reflexo,
os produtos cartográficos também vem sofrendo adaptações em seus formatos de
apresentação, como por exemplo a elaboração de Modelos Digitais de Terreno –
MDT, anamorfoses (figura 03) ou outros cartogramas complexos (figura 04), entre
outras “lógicas”, que também possibilitam a geração de produtos cartográficos
antes poucos comuns, devido às complexidades matemáticas envolvidas na sua
elaboração.
Figura 03:
Anamorfose Indicando a População Brasileira por Estado.
Fonte:
http://www.worldmapper.org/
Dessa forma,
se antes o professor tinha que se preocupar com sua formação docente em nível
de graduação e pós-graduação em sua área de estudo, atualmente a formação
contínua (inter, trans e multi)disciplinar é imprescindível e pode ser buscada
em cursos de curta duração em diversas Instituições de Ensino Superior (IES) no
país. Essa educação continuada deve atender a demanda gerada pelo acesso que a
internet oferece, disponível não somente ao professor, mas também ao seu
alunado, cada vez mais questionador e ansioso por novos conhecimentos. Dessa
forma, é mais comum nos dias de hoje não somente aprender a ler os mapas com as
geometrias conhecidas dos continentes ou países, mas também cartogramas e
anamorfoses que demonstram a realidade complexa que está por traz das formas
reais existentes no espaço geográfico, como se pode observar nas figuras 03 e
04 em que a geometria dos lugares pode ser desconsiderada segundo a importância
da temática analisada no produto cartográfico. Sendo, nesse caso,
imprescindível o conhecimento anterior do espaço que está sendo estudado.
Figura 04:
Cenários Ambientais Brasileiros
Fonte: Política Nacional de Ordenamento Territorial - PNOT
(2006)
Contudo,
apesar dos avanços tecnológicos, essa formação contínua docente não deve desprezar
os conceitos e categorias formulados durante séculos e que embasaram todos
esses anos os conhecimentos cartográficos. Pois, não se deve confundir a
tecnologia, ferramenta e/ou produto final, com a ciência que fundamenta todos
os conhecimentos utilizados para a criação desses produtos. Onde, mais do que
“apertar botões” o usuário – professor ou aluno, tem que saber ler, entender e interpretar
a informação espacial plotada, de forma que possa gerar outros produtos que
levem os seus alunos/leitores a outras formas de conhecimentos. Na figura 05
pode-se observar a janela inicial do programa Amiglobe, que é um software
livre que pode ser utilizados pelos professores na dinamização das aulas com
mapas e globos.
Figura 05: Software
Educacional Amiglobe
Fonte: http://migre.me/8Wc8A
A tendência
que se mostra aos usuários de mapas - e para o ensino de cartografia, é que os WebGis
terão cada vez mais divulgação e se tornarão importantes ferramentas a serem
agregadas ao processo de ensino-aprendizagem, devendo o docente respeitar,
sempre, a faixa etária e o nível cognitivo do seu público-alvo discente. Sem o
temor da defasagem, o professor agora tem que ultrapassar o papel de simples
intermediário na explicação dos mapas e se tornar um leitor/mapeador consciente
que, para a dinamização de suas aulas, deverá incorporar além do uso do livro
didático, atlas impresso, músicas, filmes, visitas orientadas e outras práticas.
Nesse sentido, os avanços (geo)informacionais vem complementar e tornar as
aulas cada vez mais atrativas para um alunado cada vez mais curioso.
SIT – Município de Ponta Grossa: http://geo.pg.pr.gov.br/webgis/map.phtml
Recursos Hídricos no Nordeste: http://atlas.srh.ce.gov.br/
Projeto Estrada Real: http://www.er.org.br/
Google
Maps: http://maps.google.com.br/maps/ms?msa=0
Ministério do Meio Ambiente – MMA/I3GEO: http://mapas.mma.gov.br/i3geo
Min. Cidades - GEOSNIC: http://geosnic.cidades.gov.br/
Springweb: http://migre.me/8W9XU
Atlas Escolar IBGE: http://migre.me/8W9WM
Marble:
http://edu.kde.org/applications/all/marble
Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil:
http://www.pnud.org.br/atlas/
Atlas Geográficos Melhoramentos: http://migre.me/8W9NP
World Map
3D: http://migre.me/8W9Qa
StatPlanet:
http://migre.me/8W9ST
SPRINGWeb:
http://migre.me/8W9VZ
Google Earth: http://migre.me/8W9V7
StatCart
IBGE: http://migre.me/8W9Uf
Amiglobe:
http://migre.me/8Wc8A
Por: Christian Nunes da Silva
[i] Publicado originalmente com o título:
O Ensino de cartografia na era da (geo) informação. In: Revista Conhecimento
Prático: Geografia, São Paulo, 10 out. 2011, p. 24 – 27.