Se buscarmos compreender as relações
entre sociedade e natureza ao longo da história, como processos que são
reflexos dos modos de produção estabelecidos, verificaremos que com o
surgimento das sociedades industriais o capital se tornou o elemento
impulsionador deste processo, patrocinando modificações no meio ambiente de
forma intensa e num ritmo super-acelerado, em comparação as sociedades
pré-industriais. O ideal de progresso e desenvolvimento econômico promove ao
mesmo tempo um processo de urbanização acelerada e um elevado consumo de
energia e matérias-primas; requer também um estilo de vida altamente consumista
para estimular o aumento da produção das atividades comercias e financeiras. Consequentemente,
esse ideal de desenvolvimento econômico gera grandes e graves problemas
ambientais e sociais que vão desde o aumento do lixo produzido pelos indivíduos,
que reflete na contaminação do ar, solo e das águas até a extinção de
florestas, animais e na possibilidade de modificação climática global, além das
altas taxas de desemprego, miséria, injustiça social, entre outros.
O agravamento destes problemas nas
últimas décadas e o aparecimento e crescimento da mobilização de diversos
segmentos populacionais organizados, como é o caso dos movimentos ambientalistas,
feministas, sindicais, etc, caracteriza a atual crise sócio-ambiental em que
vivemos e, ao mesmo tempo indica o esgotamento do estilo de desenvolvimento
predominante até então, sugerindo uma revisão crítica das teorias e das
práticas de desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico por qual
passamos, assim como dos indicadores socioambientais que representam o
desenvolvimento de uma sociedade.
Os aspectos sociais sempre estiveram
atrelados a como o homem utilizou e utiliza o meio ambiente. No final do século
XX, por exemplo, mais especificamente nos anos oitenta e noventa, houve uma
relativa melhoria nas taxas de escolarização obrigatória; criação de novas
escolas e universidades, que culminou no aumento de vagas no ensino em geral;
incorporação de medidas democráticas nas instituições públicas e privadas;
autonomia social e a conquista de eleições diretas para a escolha dos
governantes. Contudo, nem todas as políticas sociais implementadas nos últimos
anos contribuíram de forma satisfatória para a melhoria da qualidade de vida da
sociedade como um todo, mas sim para uma pequena parcela da população,
principalmente quando observamos a questão ambiental. Por exemplo, grande parte
das cidades brasileiras ainda não tem saneamento básico regular onde, a maior
parte do lixo urbano é depositada a céu aberto; falta de água tratada para
todos, aumento nos índices de desmatamento das florestas, etc.
Na área de saúde não foram registradas
medidas significativas de impacto na melhoria das condições de atendimento.
Este fato pode ser notado em qualquer visita que tenha por objetivo verificar a
qualidade no atendimento às populações menos favorecidas das periferias das
cidades. Ainda que algumas tímidas ações tenham sido estabelecidas nas zonas
urbanas de algumas capitais. Em se tratando de trabalho e emprego, ou a falta
deste, verifica-se que desde o ano de 2001, mais de 150 mil pessoas viviam da
coleta e venda de latas de alumínio no Brasil, essa estimativa só aumentou nos
anos subsequentes, ficando o Brasil com o título de país que mais recicla este
tipo de lata no mundo. Uma vitória, ou a confirmação de que ainda falta muito
emprego em nosso país?, visto que nesta chamada economia (in)visível do mercado
informal o individuo não tem carteira assinada, não possui vínculo empregatício
com seus direitos trabalhistas, muito menos a garantia de uma renda segura ao
final do dia.
Todos estes aspectos de desleixo do
Estado para com o “welfare state”, ou
a condição de bem estar social, também tem reflexo no meio ambiente, como forma
de poluição, desmatamento, extinção de parte da flora e da fauna, e até na
teoria de que vivemos atualmente em um período de mudança climática global, causada
principalmente pela ação do homem. Ou seja, refletindo em numerosos problemas
tanto no ponto de vista ambiental quanto social. Fatos nos demonstram que as
catástrofes ambientais só tem aumentado nos últimos anos, com consequências
prejudiciais à saúde humana, que já exigiu sacrifícios de milhares de pessoas
pelo mundo todo.
Toda essa preocupação com a
problemática ambiental e social tem a ver com o que se convencionou denominar
de “desenvolvimento sustentável”, entendido como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer as possibilidades das futuras gerações em satisfazerem suas
necessidades. Que contrapõe o almejado crescimento apenas econômico e da
visibilidade à possibilidade de equidade social e preservação/conservação
ambiental. Contudo, nos últimos 20 anos, esse discurso vem se tornado apenas
mais um jargão publicitário de grandes empresas e países, cujo principal
objetivo a ser perseguido, não tem relação com a possibilidade de se garantir
melhor qualidade de vida para a sociedade humana em geral. Assim sendo,
como e até que ponto se deve preservar o meio ambiente para gerar qualidade de
vida satisfatória para as gerações presentes e futuras? Diante desse cenário incerto
o que queremos? As discussões acerca da solução apontam para a criação de novas
diretrizes para o desenvolvimento econômico, social, ambiental e político dos
países, que tenham como parâmetros o respeito à natureza e aos seres humanos.
Por: Christian Nunes da Silva
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* Publicado em originalmente em: SILVA, C. N. Estado
e Desenvolvimento: reflexões de um debate. O Espaço do Geógrafo. Bauru, v. 37,
2005. p. 3 - 3.
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