A atividade turística, por
muito tempo, teve sua vinculação direta com modelos predatórios de utilização
dos recursos naturais. Esse fato deve-se pelo modo como eram, e em muitos
locais ainda são, realizadas as atividades turísticas e pela própria maneira do
turista se relacionar com o meio ambiente, na maioria das vezes de forma
errônea, sujando e degradando o local por onde passava. Contudo, práticas que
aliam o lazer dos praticantes do chamado “turismo ecológico” e a manutenção dos
recursos naturais podem ser notadas mais facilmente no momento hodierno do que
em períodos anteriores, principalmente, a partir da década de 60. Dessa forma,
surge a possibilidade de unir e/ou aliar os preceitos do dito desenvolvimento sustentável aos quereres
dos turistas que visitam paisagens cênicas e outros atrativos turísticos
naturais (praias, lagos, montanhas, igarapés, cachoeiras, etc), por meio do que
se começou a chamar de turismo sustentável
ou então de ecoturismo, considerando
que, a atividade do ecoturismo deve ser realizada como uma forma de utilização
racional dos recursos naturais, de apreciação desses recursos sem a predação
dos mesmos. Isto é, onde o praticante da atividade ecoturística deve buscar,
primeiramente, a apreciação dos recursos naturais – das paisagens cênicas e da
vida selvagem, deixando-os com impacto mínimo, sem predá-los, para que possam
ser visitados outras vezes pelos mesmos ecoturistas, ou outros.
Entretanto, a concepção de natureza integralmente intocada é totalmente questionável para aqueles que defendem o turismo ecológico/ecoturismo, como uma maneira de preservar de forma satisfatória os recursos naturais. Pois, de alguma forma, o turista interfere no meio ambiente, seja deixando para trás o lixo (que deve ser coletado), ou interferindo diretamente na cultura local das populações que convivem de forma “harmoniosa” com os recursos naturais. Assim, o que se propõe com a idéia de ecoturismo não é solucionar um problema, mas amenizar uma relação desigual de predação que não considera a finitude dos recursos e muito menos das populações que utilizam esses recursos tradicionalmente.
O ecoturismo pode ser notado em muitas práticas aliadas e/ou relacionadas ao lazer, em diversas formas predatórias do meio ambiente, ou então em formas de uso benéficas, ou racionais, sendo como exemplos de ações predatórias: atos que vão desde a poluição dos locais visitados até ações mais perigosas como o desmatamento por fogo ou a uma forma de “expulsão consciente” das famílias residentes nesses locais de atração turísticas, uma vez que, por necessidade, vendem suas terras a grandes empresas que especulam e gerenciam a atividade turística. De outro lado, ações benéficas ao meio também podem ser notadas, como por exemplo, a utilização racional dos recursos naturais, um tipo de manejo positivo do turismo que alie o uso sustentável desses bens com a possibilidade da satisfação das necessidades das populações locais atingidas pela atividade ecoturística.
Conforme dito anteriormente, a atividade turística teve um incremento mais rapidamente, principalmente, a partir da década de 60, quando surge o chamado “turismo de massa”, ou seja, o que antes poderia ser considerado como um capricho de pessoas “ricas” – a visitação de lugares exóticos, a partir desse momento pôde ser realizado por pessoas de menor poder aquisitivo, não necessariamente para lugares muito distantes, ou menos belos, mas que foram estimuladas pela criação de financiamentos de pacotes turísticos oferecidos por agências de turismo especializadas em oferecer várias opções de visitação e muitas formas de pagamento, seja parcelado em cheques ou cartões de crédito, ou à vista com desconto. Esses foram fatores que, juntamente com a divulgação em meios de comunicação em massa e investimentos públicos e privados nas áreas de visitação, influenciaram no incremento da atividade turística nos últimos anos.
De outro modo, consideramos a relação que a atividade do ecoturismo está intimamente ligada a noção de lazer, em que percebemos que as ações realizadas nas áreas atrativas ao ecoturismo procuram se enquadrar em um conjunto de ocupações direcionadas ao repouso, diversão e entretenimento. Contudo, o repouso e o divertimento dos praticantes do ecoturismo geralmente podem ser interrompidos pelas grandes aglomerações de visitantes nos locais visitados, que acarretam alguns problemas, por exemplo: o lixo despejado pelos turistas em locais impróprios; o potente barulho dos sons nos bares e em automóveis (no caso específico dos balneários); pessoas alcoolizadas que causam transtornos; transito congestionado que dificulta ou demora o acesso aos locais de chegada, entre outros fatos que fazem com que o turista – e os moradores das comunidades receptoras, acabem ficando mais fadigados e estressados do que antes de procurar o repouso, principalmente em momentos de férias e feriados. Dessa maneira, fatos como esses fazem com que as atividades ecoturísticas praticadas em ambientes com recursos naturais atrativos, sejam consideradas como formas não-sustentáveis, insustentáveis – ou porque não dizer irracionais, que não levam ao bem-estar, tanto do morador local, como do turista que não teve seus objetivos anteriores atingidos (o repouso, o divertimento e o entretenimento).
Percepções de que a utilização dos recursos naturais não deve ultrapassar a velocidade de reposição desses mesmos recursos pela natureza permeiam toda a idéia de que o homem deve utilizar racionalmente o meio ambiente, levando em consideração que esses bens são finitos e passíveis de extinção. Nesse ínterim, o ecoturismo apresenta-se ora como uma forma racional de utilização dos recursos naturais e garantia de novas formas de renda para as comunidades receptoras, ora como mais um instrumento de degradação desses mesmos recursos. Assim, observando a grande importância das atividades turísticas no mundo moderno, tanto para o setor de entretenimento como para o setor de serviços (e o aumento da renda dos Estados, Municípios e populações tradicionais locais), devem-se considerar as vantagens e/ou desvantagens das atividades ecoturísticas para que não se torne uma atividade nociva ao meio ambiente.
Ao considerarmos a inserção de atividades de turismo sustentável ou de ecoturismo “racionais” no território paraense, essas podem servir de alternativas sustentáveis de incremento na economia daqueles municípios com atividades produtivas que estão em aparente decadência, como ocorre com o caso da atividade madeireira no Marajó, por exemplo. Nesse exemplo, é possível observar que, apesar de possuir diversos atrativos à serem visitados, o ecoturismo no Marajó ainda é pouco explorado, com algumas iniciativas no litoral do arquipélago marajoara (Soure e Salvaterra, principalmente), mas com poucas ações nas outras regiões marajoaras, como é o caso da região do Furo de Breves. Nos municípios que fazem parte do arquipélago marajoara e que não tem tradição de atividades ecoturísticas é possível implantar ações ligadas a visitação em balneários (rios e igarapés), turismo em fazendas, e em comunidades tradicionais, além da exploração do ecoturismo em Unidades de Conservação (UC), com o planejamento previsto no plano de manejo da UC.
Exemplos de sucesso que tem divulgação nacional e internacional e que podem servir de modelo para os municípios da região amazônica, que tem vocação para o ecoturismo podem ser seguidos, como é o caso de Alter do Chão em Santarém (PA), o Pantanal (MS), o Jalapão (TO), os naturais atrativos do município de Bonito (MS), ou mesmo as praias de Soure no Marajó (PA), que tiveram seus recursos naturais propagandeados em novela de repercussão nacional, que possibilitaram a diversos moradores locais se especializarem, para oferecer serviços de qualidade aos visitantes, tanto na hospedagem, quanto na alimentação e na criação de trilhas, rotas e atividades interessantes de serem visitadas. Uma das características destes locais, além da paisagem cênica atrativa, é a qualidade no serviço oferecido, que estimulam os visitantes a divulgarem o local visitado em seu retorno, para outras pessoas, mostrando a satisfação com o lugar visitado, formando assim possíveis novos “clientes”. Então, voltando aos municípios amazônicos que tem vocação para o ecoturismo, mas não estão enfatizando esta atividade, é necessário antes de tudo, planejar as atividades a serem oferecidas; mapear os pontos interessantes a serem visitados e, além de tudo isso, que o Poder Público incentive a atividade do turismo com responsabilidade, investindo na especialização da população, na melhoria na rede hoteleira e nos meios de propaganda, para gerar com isso um incremento na receita local e estimular o conceito que vem se valorizando na atualidade como “indústria do turismo”.
Entretanto, a concepção de natureza integralmente intocada é totalmente questionável para aqueles que defendem o turismo ecológico/ecoturismo, como uma maneira de preservar de forma satisfatória os recursos naturais. Pois, de alguma forma, o turista interfere no meio ambiente, seja deixando para trás o lixo (que deve ser coletado), ou interferindo diretamente na cultura local das populações que convivem de forma “harmoniosa” com os recursos naturais. Assim, o que se propõe com a idéia de ecoturismo não é solucionar um problema, mas amenizar uma relação desigual de predação que não considera a finitude dos recursos e muito menos das populações que utilizam esses recursos tradicionalmente.
O ecoturismo pode ser notado em muitas práticas aliadas e/ou relacionadas ao lazer, em diversas formas predatórias do meio ambiente, ou então em formas de uso benéficas, ou racionais, sendo como exemplos de ações predatórias: atos que vão desde a poluição dos locais visitados até ações mais perigosas como o desmatamento por fogo ou a uma forma de “expulsão consciente” das famílias residentes nesses locais de atração turísticas, uma vez que, por necessidade, vendem suas terras a grandes empresas que especulam e gerenciam a atividade turística. De outro lado, ações benéficas ao meio também podem ser notadas, como por exemplo, a utilização racional dos recursos naturais, um tipo de manejo positivo do turismo que alie o uso sustentável desses bens com a possibilidade da satisfação das necessidades das populações locais atingidas pela atividade ecoturística.
Conforme dito anteriormente, a atividade turística teve um incremento mais rapidamente, principalmente, a partir da década de 60, quando surge o chamado “turismo de massa”, ou seja, o que antes poderia ser considerado como um capricho de pessoas “ricas” – a visitação de lugares exóticos, a partir desse momento pôde ser realizado por pessoas de menor poder aquisitivo, não necessariamente para lugares muito distantes, ou menos belos, mas que foram estimuladas pela criação de financiamentos de pacotes turísticos oferecidos por agências de turismo especializadas em oferecer várias opções de visitação e muitas formas de pagamento, seja parcelado em cheques ou cartões de crédito, ou à vista com desconto. Esses foram fatores que, juntamente com a divulgação em meios de comunicação em massa e investimentos públicos e privados nas áreas de visitação, influenciaram no incremento da atividade turística nos últimos anos.
De outro modo, consideramos a relação que a atividade do ecoturismo está intimamente ligada a noção de lazer, em que percebemos que as ações realizadas nas áreas atrativas ao ecoturismo procuram se enquadrar em um conjunto de ocupações direcionadas ao repouso, diversão e entretenimento. Contudo, o repouso e o divertimento dos praticantes do ecoturismo geralmente podem ser interrompidos pelas grandes aglomerações de visitantes nos locais visitados, que acarretam alguns problemas, por exemplo: o lixo despejado pelos turistas em locais impróprios; o potente barulho dos sons nos bares e em automóveis (no caso específico dos balneários); pessoas alcoolizadas que causam transtornos; transito congestionado que dificulta ou demora o acesso aos locais de chegada, entre outros fatos que fazem com que o turista – e os moradores das comunidades receptoras, acabem ficando mais fadigados e estressados do que antes de procurar o repouso, principalmente em momentos de férias e feriados. Dessa maneira, fatos como esses fazem com que as atividades ecoturísticas praticadas em ambientes com recursos naturais atrativos, sejam consideradas como formas não-sustentáveis, insustentáveis – ou porque não dizer irracionais, que não levam ao bem-estar, tanto do morador local, como do turista que não teve seus objetivos anteriores atingidos (o repouso, o divertimento e o entretenimento).
Percepções de que a utilização dos recursos naturais não deve ultrapassar a velocidade de reposição desses mesmos recursos pela natureza permeiam toda a idéia de que o homem deve utilizar racionalmente o meio ambiente, levando em consideração que esses bens são finitos e passíveis de extinção. Nesse ínterim, o ecoturismo apresenta-se ora como uma forma racional de utilização dos recursos naturais e garantia de novas formas de renda para as comunidades receptoras, ora como mais um instrumento de degradação desses mesmos recursos. Assim, observando a grande importância das atividades turísticas no mundo moderno, tanto para o setor de entretenimento como para o setor de serviços (e o aumento da renda dos Estados, Municípios e populações tradicionais locais), devem-se considerar as vantagens e/ou desvantagens das atividades ecoturísticas para que não se torne uma atividade nociva ao meio ambiente.
Ao considerarmos a inserção de atividades de turismo sustentável ou de ecoturismo “racionais” no território paraense, essas podem servir de alternativas sustentáveis de incremento na economia daqueles municípios com atividades produtivas que estão em aparente decadência, como ocorre com o caso da atividade madeireira no Marajó, por exemplo. Nesse exemplo, é possível observar que, apesar de possuir diversos atrativos à serem visitados, o ecoturismo no Marajó ainda é pouco explorado, com algumas iniciativas no litoral do arquipélago marajoara (Soure e Salvaterra, principalmente), mas com poucas ações nas outras regiões marajoaras, como é o caso da região do Furo de Breves. Nos municípios que fazem parte do arquipélago marajoara e que não tem tradição de atividades ecoturísticas é possível implantar ações ligadas a visitação em balneários (rios e igarapés), turismo em fazendas, e em comunidades tradicionais, além da exploração do ecoturismo em Unidades de Conservação (UC), com o planejamento previsto no plano de manejo da UC.
Exemplos de sucesso que tem divulgação nacional e internacional e que podem servir de modelo para os municípios da região amazônica, que tem vocação para o ecoturismo podem ser seguidos, como é o caso de Alter do Chão em Santarém (PA), o Pantanal (MS), o Jalapão (TO), os naturais atrativos do município de Bonito (MS), ou mesmo as praias de Soure no Marajó (PA), que tiveram seus recursos naturais propagandeados em novela de repercussão nacional, que possibilitaram a diversos moradores locais se especializarem, para oferecer serviços de qualidade aos visitantes, tanto na hospedagem, quanto na alimentação e na criação de trilhas, rotas e atividades interessantes de serem visitadas. Uma das características destes locais, além da paisagem cênica atrativa, é a qualidade no serviço oferecido, que estimulam os visitantes a divulgarem o local visitado em seu retorno, para outras pessoas, mostrando a satisfação com o lugar visitado, formando assim possíveis novos “clientes”. Então, voltando aos municípios amazônicos que tem vocação para o ecoturismo, mas não estão enfatizando esta atividade, é necessário antes de tudo, planejar as atividades a serem oferecidas; mapear os pontos interessantes a serem visitados e, além de tudo isso, que o Poder Público incentive a atividade do turismo com responsabilidade, investindo na especialização da população, na melhoria na rede hoteleira e nos meios de propaganda, para gerar com isso um incremento na receita local e estimular o conceito que vem se valorizando na atualidade como “indústria do turismo”.
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* Esse texto trata-se de uma síntese de dois artigos completos que foram
publicados originalmente sob os títulos “REDIG, J.; SILVA, C. N. Unidades de
Conservação e a Viabilidade do Ecoturismo: Uma Proposta de Gestão para Parques.
Revista Humanitas (UFPA), v.26, p. 53-64, 2009”. e “SILVA, C. N. Turismo e
sustentabilidade em praias do estuário amazônico. Revista Geoamazônia
(UFPA), v.I, p.11-21, 2007”.