É surpreendente a maneira
como os objetos, a televisão e a mídia em geral atuam no cotidiano da
sociedade, dita “moderna”. Essa atuação pode ser, muitas vezes, maléfica,
devido influenciar de forma pervertida ou deturpada a atitude das pessoas. Na
programação televisiva, nos “horários de pico”, em que a audiência televisiva é
maior, observamos a maneira apelativa que as principais emissoras de televisão
utilizam para chamar a atenção do telespectador, como por exemplo: o uso
indiscriminado de crianças influenciadas por adultos, geralmente seus pais ou
empresários, a falar verdadeiras bobagens para que nós, telespectadores,
possamos rir, fazendo com que as crianças sejam subestimadas na sua inteligência.
Posso citar diversos outros exemplos que mostram cenas de sexo explícito ou
baixarias com brigas ao vivo e vocabulário de baixo calão.
Apesar de todas essas apresentações de pouca
vergonha – ou pouco bom senso, que
deixam o telespectador alienado, ainda existem as novelas onde há poucas pessoas
com baixo poder aquisitivo no enredo, os que aparecem algumas cenas nem podem
ser chamados de pobres, pois suas casas e os objetos que possuem (carros,
roupas, etc.), podem ser consideradas de nível econômico superior do que ao do
pobre brasileiro que está assistindo. Além do que, existe a influência cada vez
maior à prostituição masculina e feminina com o abuso das cenas de adultério.
Imagine você, pai de família, a influência que uma novela dessas tem na cabeça
de sua filha (o) menor de idade. Não quero com essas afirmações que o Brasil retorne
ao regime de censurava, onde toda e qualquer forma de oposição era oprimida,
porém, seria interessante que na programação da televisão brasileira, e na
mídia em geral, houvesse um pouco mais de ética e decência no que vai ser apresentado
e bom senso, também, proporcional ao horário em que as programações são mostradas,
sem cair em um moralismo exacerbado.
Com certeza chegamos ao fundo do poço
no que diz respeito à “ética televisiva”, apresentada atualmente e que nos é
imposta pelos grandes “dragões” da mídia, que criam, re-criam e descriam atores,
pessoas outras que se tornam publicas por alguns dias (brothers) e
cantores, estes últimos, muitas vezes, donos de uma voz horrível que fazem
sucesso com músicas sem letra e danças ridículas (pocotó, pocotó...). Então, no
momento em que você estiver na sua casa à noite ou em um domingo na frente da
televisão (que a programação televisiva é paupérrima, no quesito cultura útil),
ligue-a somente no horário do telejornal, tente ouvir uma música, alugue uma
fita de vídeo, um DVD (que lhe possibilitem alguma aprendizagem) ou escolha o
meio pelo qual a maioria está escolhendo – o meio da valorização da ignorância,
da alienação, da bestialização, pois
este é o caminho mais fácil de ser seguido e apreendido.
Em nosso tempo, todos os
objetos e ações – ou sistemas de objetos e sistemas de ações, já possuem um
discurso pré-definido, onde é possível se observar que esse discurso atual embutido,
pré-existente ou pré-determinado nos objetos e nas ações, facilita a “recriação
da ignorância” no/do indivíduo, pois esse sujeito torna-se incapaz de pensar
sobre o discurso que já existe e cada vez mais incapacitado de fazer o discurso
do todo. Sobre esse assunto, o geógrafo Milton Santos afirmou em sua obra que
“os objetos têm um discurso, um discurso que vem de sua estrutura interna e
revela sua funcionalidade. É o discurso do uso, mas, também, o da sedução. E há
o discurso das ações, do qual depende sua legitimação. As ações necessitam de
legitimação prévia para ser mais docilmente aceitas e ativas na vida social e
assim mais rapidamente repetidas e multiplicadas. (SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e
Meio-Técnico-Científico-Informacional. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 103).
Contudo, é possível ainda
fugir dessa teia midiática que nos envolve atualmente. Podemos ir ao encontro,
também, de um instrumento, um objeto muito utilizado por nossos ancestrais, o
qual eles denominavam de “livro”, que, além de ser difícil de serem procurados
e encontrados em algumas cidades brasileiras (os bons, pois similarmente às
boas músicas, também existem livros de pouco conteúdo), possuem custo elevado,
frente ao poder aquisitivo da maior parte da população e não têm o incentivo adequado
do Governo brasileiro para que se tornem mais acessíveis à população, para a
grande maioria da população de baixa renda. Ao leitor, desejo-lhe que se encontrar
um livro bom e barato, o que pode ser difícil, pois a qualidade, na maioria das
vezes, é proporcional ao preço, estimo-lhe boa sorte e aproveite um momento em
sua vida em que você pode adquirir o mínimo de cultura que não é lixo, pois,
apesar de tudo, nenhum livro é ruim o suficiente para que não possamos aprender
nada.
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* Publicado em originalmente em SILVA, C. N. A
bestialização da Sociedade moderna: a recriação da ignorância?. O espaço do
Geógrafo. Bauru, v.41, 2005, p. 3 - 3.
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