domingo, 24 de fevereiro de 2013

DO VELHO AO NOVO: UMA IDÉIA SOBRE RECICLAGEM *

Que bom é ver o homem reciclar para poder conservar e preservar a natureza e o meio em que vivemos. Atualmente vemos várias manchetes na mídia mostrando como o homem tem se tornado um ser “consciente”, isto devido ao fato deste mesmo homem tentar re-utilizar materiais que podem ser reciclados. Caso não exista uma “conscientização” para a reciclagem, novas matérias-primas deverão ser retiradas da natureza e empregadas na produção, causando mais desequilíbrios ao já desequilibrado meio-ambiente. Com a busca de mais matéria-prima, existe uma tendência a aumentar os efeitos nocivos do desmatamento e com isso um crescimento dos impactos ambientais e com eles todos os problemas que isto acometeria. É certo que a idéia de reciclagem vem servindo como fonte de renda e empregos às centenas de menos afortunados das classes mais baixas do Brasil (se é que ainda existe uma estrutura ou pirâmide social confiável).
 
A realidade que está por trás da “estória” não é esta que vemos nos jornais e demais meios de comunicação, da qual existe uma idéia disforme que há uma “conscientização” da sociedade e dos industriais no que cerne a mitigação da poluição e a conseqüente solução da problemática ambiental.
 
Dados atuais afirmam que é muito mais vantajoso para um industrial, ou outro tipo de empresário, reciclar um bem para diminuir despesas do que produzi-lo da matéria-prima bruta[1]. Então, esta duvidosa “conscientização” ambiental não passa de uma nova retomada da busca por lucros imediatos (ou a mais valia) que estes empresários/industriais almejam. Não nos enganemos ao pensarmos que existe algum agente/ator com direcionamento somente ao bem comum da coletividade, pois esta idéia é utópica.

Certa vez (ano de 2003), num domingo na Praça da República, em Belém do Pará, fiz um teste com o objetivo de verificar em quanto tempo uma latinha de alumínio passaria exposta no chão, sem que algum catador de lixo/latinha viesse pegá-la, sendo que este teste poderá ser feito em qualquer capital do país[2] e o resultado será similar: joguei uma latinha de alumínio no chão e em média de 13 a 20 segundos, a mesma lata, é apanhada por uma outra pessoa, seja ela mulher, homem ou criança. Este teste mostra uma “conscientização” pela preservação/conservação do meio ambiente ou somente mais um grave problema social que devemos resolver?
 
Em outro exemplo, cito o caso da maioria dos navios que trafegam pelos rios na Amazônia que, independentemente de os passageiros despejarem o lixo no local determinado da embarcação, este lixo é posteriormente jogado no próprio rio que tinha sido poupado anteriormente. A maioria das grandes cidades do Norte do país não possuem grandes indústrias de reciclagem ativas, como em algumas capitais do sudeste e sul do país, mas este fato não quer dizer que os amazônidas sejam mais ou menos “conscientes” que os curitibanos ou paulistanos, por exemplo, mas que este é um problema estrutural de caráter sócio-político, ou será que pelo fato de nas cidades do sul e sudeste haver uma indústria de reciclagem ativa eles são mais conscientes do que os nortistas?
 
A problemática ambiental não fica longe desta discussão, pois tem base em uma falta de conscientização por parte não somente da sociedade, que não separa e tenta reciclar seu lixo, mas também dos políticos que não direcionam a um destino final adequado o lixo que é produzido nas cidades, tanto o lixo doméstico quanto o lixo hospitalar. Esta não é uma retomada popular à “conscientização” - palavra que acho errônea, pois todos temos consciência do problema ambiental atual – mas a falta de implementação de políticas públicas direcionadas às pessoas de baixa renda que estão “garimpando” o lixo, e uma política, também, de educação ambiental nas escolas de todo o país, pois é na escola que o problema será solucionado. Dados extraídos da reportagem editada no Jornal do Brasil em 13/05/2002, por Mariana Flores, afirmam que:

A reciclagem de latas de alumínio movimentou algo como R$ 850 milhões no ano passado no Brasil. A estimativa mostra que o país está liderando o ranking mundial de aproveitamento de latas para envasar bebidas. De todos os 10,5 bilhões de latas de bebidas consumidas durante o ano de 2001, 85% foram recicladas. Estima-se que 150 mil pessoas estejam vivendo da coleta e venda de latas de alumínio no Brasil. Cada quilograma, com 75 latas, é vendido por R$ 1,60. Um brasileiro que recolhe a lata e a vende para ser reciclada ganha, em média, o correspondente a dois salários mínimos por mês.


Sendo que, para o ano de 2004 o Brasil foi, pela quarta vez consecutiva, o país que mais reciclou este tipo de lata no mundo (IBGE, 2004). Qual a moral da estória? Não somos conscientes ou os políticos não oferecem condições oportunas de emprego e armazenamento do lixo doméstico, hospitalar ou industrial? Na realidade a culpa é de todos nós, já que, pelo fato de não sermos coerentes com a reciclagem, não somos duros ao cobrar o direcionamento correto dos políticos eleitos, pois ao seguirmos um padrão do dito “desenvolvimento sustentável” para a sociedade, devemos verificar primeiramente o nosso quintal para ver o outro lado da rua.




* Publicado em originalmente em C. N. Do velho ao novo: uma idéia sobre a reciclagem. O Espaço do Geógrafo. Bauru - SP, v. 35, 2003, p. 3 - 3. 
[1] A energia desperdiçada na industrialização da matéria-prima bruta é muito menor quando utilizada para remanufaturar materiais recicláveis, como papel, vidro, alumínio, etc. Sendo que os materiais recicláveis ainda poupam grandes reservas de recursos naturais, preservando, assim, o meio ambiente.
[2] Em locais de intensa circulação de pessoas.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A EDUCAÇÃO E O TRABALHO DO EDUCADOR EM DEBATE *


O ensino superior, em algumas universidades públicas e privadas, no Brasil, tem se mostrado um real desfigurador do que deveria ser o repasse de conhecimento para as demais camadas da população, formando profissionais que tem o dever de alienar cada vez mais a população. Algumas Universidades vêm demonstrando ser apenas fornecedoras de um diploma, considerado como "ticket" para o ingresso no mercado de trabalho. A sociedade é um ente que, na maioria das vezes, é beneficiada com a produção acadêmica após esta produção já haver sido totalmente captada pelo setor privado, fato que deveria ser o inverso, pois a Universidade não produz para a população? Ou é somente para capacitar mão-de-obra para o mercado? 

Contudo, as transformações no ensino não devem acontecer somente nas universidades, mas devem vir debaixo da pirâmide educativa ou no topo do “funil” que leva à vida acadêmica, pois a escola pode ser considerada tanto como um campo de luta de classes, que serve para aprendizagem critica do cidadão, quanto para a reprodução das relações de dominação, usada para a preparação de uma forma de trabalho dócil ao capital, e como inculcadora da ideologia dominante. A escola estando na base da pirâmide, pode ser considerada uma unidade complexa do reflexo que a sociedade imprime nos meios de educação. Além do que, o que mostra a figura abaixo é apenas uma generalização que tende a ser diferente, que depende da região brasileira que está se analisando, por exemplo, no sul-sudeste o número de doutores é maior que nas regiões norte-nordeste (segundo o censo do IBGE, 2010), onde a maioria das redes públicas dos estados ainda conta com classes multisseriadas nas cidades interioranas e com a falta de corpo docente com qualificação adequada.
 
Figura: Funil da Educação Brasileira - Modelo Simplificado da Estrutura de Ensino
Fonte: Organizado pelo autor, baseado em pesquisa e experiência de campo.


Apesar do que mostra a figura acima, a sociedade parece estar cada vez mais distante da Universidade, só sendo chamada a pensar o problema do ensino público superior, quando vê ameaçada a possibilidade de realização de concursos, como o vestibular. No interior da Universidade pode-se observar uma hierarquia que tende a afastar a produção acadêmica da sociedade, pois é imaginado que fora dos muros da Universidade existe uma massa populacional incapaz de absorver assuntos tão "complexos". Tal pensamento pode ser extinto, se caso o intelectual preste-se ao serviço de re-avaliar sua dinâmica pedagógica, aí pensando principalmente o vocabulário complexo e esdrúxulo que os universitários abraçam no decorrer da vida acadêmica, adaptando sua linguagem de acordo com o público discente e considerando também o conhecimento adquirido pelo aluno fora da escola. 

O educador possui um papel fundamental ao difundir suas ideologias a sua platéia discente e, a história demonstra, que esta difusão sempre esteve atrelada a grupos dominantes que tinham o principal dever de alienar aos alunos, no qual, o professor, ministrava aulas expositivas tradicionais e inibia os alunos à discussão em sala, não deixando que se demonstre o caráter político da sala de aula no modo de ver a realidade, pois o professor tradicional sempre foi visto como a autoridade inquestionável na sala, pareceria o “dono da verdade” e o aluno como passivo decorador das lições, assimilando fórmulas não assimiladas, por meio da chamada decoreba. Apesar de não ser a prática majoritária atualmente, essa realidade deve ser revista e ultrapassada, de modo que o educador ensine o aluno a pensar criticamente e independente a realidade que o cerca.

Assim, o ato de educar é um ato de construção do conhecimento, da ciência e do saber; a educação deve ser transmitida pelo educador de maneira que ele incentive o poder contestatório e questionador do aluno, daí o papel do ensino crítico da realidade ao despertar no educando sua ação política, de modo que o aluno aprenda a pensar, a aprender e compreender a pôr em dúvida a palavra do educador. O educador precisa lembrar da importância dialógica, pela qual o professor deve dialogar com o aluno e não exercer uma dominação sobre ele, sendo sempre, o educador, um mediador preparado para desenvolver habilidades cognitivas na construção do conhecimento do educando, de modo que eles aprendam a pensar sem temer a forma como serão avaliados. Os educadores, por sua vez, terão que re-adaptar-se aos dizeres das novas tecnologias que se mostram atualmente, ou será que o professor não é substituível?


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Nota:
 * Esse texto é uma síntese atualizada de um artigo publicado em revista especializada, divulgada originalmente sob a referência “SILVA, C. N. O ensino público, ensino de Geografia e o contexto acadêmico. Revista Ciência Geográfica. Bauru - SP, v. IX, p. 281-284, 2003”.