Em
alguns espaços na Amazônia brasileira, a idéia do caboclo ribeirinho pescador, extrativista,
cultivador de quintais ou roçados e criador de pequenos animais vem sendo substituída
por uma nova categoria há muito tempo notada, a do ribeirinho apanhador de
esmolas de embarcações. Uma verdadeira “mendicância ribeirinha” nos rios da
Amazônia brasileira. Atividade que é reflexo da falta de oportunidades sustentáveis,
econômica, social e ambientalmente, que tenha como objetivo principal a geração
de renda, que seja satisfatória e digna, fato que tem sido negado à grande
maioria dos habitantes que vivem às margens dos rios amazônicos.
Infelizmente, o que podemos notar é
que os barcos e navios que transportam pessoas e produtos na bacia amazônica
acostumaram alguns ribeirinhos à mendicidade, ou seja, ao ato da mendicância. Na
maioria das vezes, sem ter outra opção de renda, os ribeirinhos esperam que
lhes sejam jogados dos barcos objetos ou comida dentro de sacolas em direção ao
rio, para então apanhar os embrulhos posteriormente e verificar o que foi
jogado. Independentemente do que estiver dentro da sacola, pode ser qualquer
coisa, o ribeirinho apanha. Este ato, sem dúvida, na maioria das vezes, traduz
a boa vontade do passageiro. Porém, esta atitude tem viciado o ribeirinho a
pedir. Dessa forma, todas as vezes que passar uma embarcação no rio o apanhador-ribeirinho
sairá de seus afazeres domésticos ou mesmo profissionais, em sua residência,
para pegar a canoa e sair “mendigando” pequenos utensílios.
É
inegável que este fato já virou atração turística nos rios da Amazônia, basta
se viajar em algum barco que trafega nesses rios que é possível se visualizar
estas cenas que, apesar de tudo, são de solidariedade. Porém, que já se culturalizam-se
no ribeirinho, e mostram a miséria em que a população ribeirinha amazônida vive
atualmente. Seria bom se todo passageiro/turista das embarcações na Amazônia por
um acaso resolvesse jogar algo que, ao invés de esmolas ou lixo, fossem anzóis,
outros materiais para pescaria, ou alguma forma do ribeirinho garantir sua
renda dignamente, pois, desse modo, estariam incentivando o ribeirinho a
procurar seu próprio alimento. Essa idéia vem ao encontro ao que diz o conhecido
adágio popular, “melhor do que dar o peixe ao homem é ensiná-lo a pescar” que
se mostra como uma verdade ratificada pela realidade cotidiana. Contudo, temo
que com esta idéia, teríamos na região amazônica uma loja de artigos para pesca
a cada 200 metros
por onde passam os rios.
Uma
coisa é certa, a prática de jogar sacolas com objetos de embarcações nos rios
da Amazônia já se tornou um hábito, costume, tanto dos ribeirinhos, quanto dos
tripulantes destas embarcações. A solução mais viável, desta vez mais perspicaz
do que a idéia anterior, seria uma tomada de decisão do poder público
direcionada à (re)educação tanto dos ribeirinhos, quanto dos turistas e demais
tripulantes, com avisos nas embarcações inibindo a prática que estimule à
mendicidade. Além de outras políticas públicas de apoio técnico e da criação de
formas de financiamentos às atividades produtivas dos ribeirinhos amazônicos,
com ações dignas e satisfatórias, culturalmente e economicamente.
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* Publicado em originalmente em: SILVA, C. N.
Mendicância nos rios da Amazônia: uma realidade vergonhosa ou atração turística.
Informativo do NUMA, 2004.
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